sexta-feira, março 16, 2012

Restará alguém para fechar a porta?

O presidente da Câmara do Porto (Portugal), Rui Rio, alertou hoje para a necessidade de se implementarem reformas políticas para além das financeiras, sob o risco de o regime português vir a falir definitivamente.

"Tenho uma noção clara de que, ou nós introduzimos reformas muito profundas no regime, no nosso regime, que ainda podemos chamar democrático, mas que qualquer dia já nem isso podemos chamar, ou eu não tenho dúvida nenhuma de que o regime vai à falência em definitivo", afirmou Rui Rio aos jornalistas à margem da apresentação no Porto do livro "Caminho Aberto" do autarca de Lisboa, António Costa.

Será que, de facto, ainda se pode chamar ao regime português democrático? Será que o regime ainda não foi à falência?

"Uma coisa é fazer o que o Governo está a fazer, coisa diferente é produzirmos reformas que revitalizem o regime e que lhe dêem uma maior eficácia para enfrentar os problemas da sociedade, coisa que manifestamente não está a ter", diz Rui Rio.

Pois é. Os problemas da sociedade estão a passar ao lado do Governo. Mas isso também não é coisa, reconheça-se, que preocupe a equipa de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho.

Como se não bastasse Passos Coelho julgar-se dono da verdade, ainda gosta (terá tido, com certeza, bons professores) de fazer dos plebeus uns asnos.

E está de tal maneira imbuído dessa douta suposição, que até teve a lata de dizer que o Governo está disposto a fazer "alguma modelação" na aplicação das medidas de austeridade com "impacto social mais pesado".

Lá que os portugueses aceitem ser, passivamente, escravos ao serviço de um governo que tem um primeiro-ministro que mente, ainda vá que não vá. Mas daí a acreditar que Passos Coelho abandonou a prática do “quero, posso e mando” vai, creio eu, uma grande distância.

O Governo já há muito que abandonou a tese de que os portugueses iriam morrer da cura ou da doença. Fez as contas e achou por bem que morram apenas da doença, desde logo porque dessa forma não há necessidade de gastar dinheiro (que, por exemplo, faz falta no BPN e aos Antónios Mexias da praça) na tentativa de cura.

É claro que Passos Coelho sabe que essa estratégia vai atirar o país para uma terrível recessão económica, eventualmente irreversível. Mas isso não o preocupa. Quando acabar ele dá à sola e quem vier atrás que feche a porta e pendure a placa da falência.

Quando se vê que alguns políticos sofrem mesmo de nanismo, genético ou adquirido, não sobra margem de manobra para a esperança. Pelos vistos o Partido Socialista contenta-se em fingir que lá vai, embora nem com viagra o consiga.

O PS faz lembrar a história da família de um militar morto durante a guerra colonial. Quando o Exército foi comunicar aos pais que o filho tinha morrido, disse: Ele foi atingido por sete tiros, mas felizmente só um foi fatal.

O Governo está convencido, e até agora não tem razões práticas para alterar a estratégia, que os escravos contentam-se com migalhas, farelo ou pão e água.

Da mesma opinião são também os ilustres membros da casta superior do reino lusitano, casos de Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, Duarte Lima.

Ou, igualmente, Cavaco Silva que, em termos vitalícios, só tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro.

Mas, reconheça-se, Portugal é um país (se é que é) muito original. Ao mesmo tempo que tem 1.200 mil desempregados, 20% de miseráveis e outros 20% de semi-miseráveis, tem uma Presidência da República que apenas representa uma pequena factura de 16 milhões de euros por ano.

Pouca coisa, é claro, para um reino de tanta qualidade. Dividindo esse montante por cada português, incluindo desempregados,  pobres e miseráveis, dá a módica quantia de 1,5 euros por cada um.

É claro que, no meio da plebe, aparecem sempre as vozes críticas que contestam a necessária e vital opulência de um organismo que dirige o destino de um país que recentemente readoptou o esclavagismo.

Dizem esses seres inferiores, e é por isso que são escravos, que os 16 milhões de euros anuais são um valor 163 vezes superior à presidência de Ramalho Eanes, gastando o chefe de Estado português  o dobro do rei de Espanha (8 milhões).

Esquecem, no entanto, de dizer que a casta superior fica, mesmo assim, longe dos 112 milhões de euros de Nicolas Sarkozy, ou dos 46,6 milhões da rainha de Inglaterra, Isabel II.

Importa também relevar a importância e imprescindibilidade do séquito que acompanha sua majestade D. Cavaco Silva. Ou  seja, 12 assessores e 24 consultores, além dos restantes especialistas que põem em funcionamento a máquina pessoal do presidente e toda a sua estrutura física.

Ao que parece,  Cavaco Silva faz-se rodear de um regimento de quase 500 pessoas, fazendo com que os 300 elementos a trabalhar no Palácio de Buckingham, e os 200 que servem o rei Juan Carlos de Espanha pareçam insignificantes.

Ainda bem que assim acontece. Em alguma coisa Portugal haveria de ser grande. Também o é noutras coisas, como seja o bacanal político, as orgias político-económicas e as festas da abundância em que as sobras alimentam os escravos.

Veja-se, por exemplo, que o Governo “entende não existirem quaisquer incompatibilidades ou conflitos de interesses” entre o cargo proposto a António Borges pelo maior accionista da Jerónimo Martins e “as funções de consultoria” na equipa que supervisiona junto da Parpública (a holding que gere as participações empresariais do Estado) as privatizações, as renegociações das parcerias público-privadas (PPP) e a reestruturação do Sector Empresarial do Estado.

Portugal não dá, aliás, a perceber que o seu povo passa fome. Como não tira os sapatos ninguém percebe que tem a meias rotas. Veja-se, por exemplo, que na 21ª Cimeira Ibero-Americana, realizada no Paraguai, o reino lusitano mostrou toda a sua pujança.

Mostrando mais uma vez a sua coerência e depois de ter dito que “ninguém está imune aos sacrifícios”,  Aníbal Cavaco Silva levou ao Paraguai uma comitiva de 23 super-especialistas, com destaque para o seu médico pessoal e, é claro, para o seu mordomo.

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