domingo, maio 27, 2012

Nem as crianças (mortas) acordam a NATO


As Nações Unidas, de acordo com os donos do mundo, debatem o massacre de Houla, na Síria, em que 34 das 90 pessoas que morreram eram crianças. Resultado prático? Nenhum, obviamente.

O massacre, apenas mais um, tem sido condenado de forma veemente pela comunidade internacional. A tradição desta condenação é a de que continuam a existir terroristas bons e terroristas maus, sendo que a catalogação continua a ser feita pelos tais donos do mundo.

O Reino Unido quer que a Rússia, o único grande aliado do regime sírio, aumente a pressão sobre Bashar al-Assad para que pare a matança de civis. O líder sírio ri-se a NATO continua com o rabinho entre as patas.

Provavelmente a NATO e a ONU irão dizer que até prova em contrário Bashar al-Assad é inocente, desde logo porque este afirma não ter qualquer responsabilidade no massacre, atribuindo a responsabilidade a "terroristas".

Desde Março de 2011 que milhares de pessoas (não sei se Bashar al-Assad  considera pessoas os que pensam de forma diferente) foram mortas na Síria.

Todo o mundo sabe há muito, muito tempo, que Bashar al-Assad não era flor que se cheire. Mas o cheiro, o mesmo cheiro, já tem décadas e isso nunca incomodou os donos do mundo, tal como não os incomoda que o presidente de Angola, há 33 anos no poder sem ter sido eleito, tenha 70 por cento da população na pobreza.

No caso da Síria, como no da Líbia, é de facto uma chatice. Bem que Kadhafi e Bashar al-Assad poderiam ter resolvido a questão de outra forma, fazendo o mesmo que os seus homólogos do Egipto e da Tunísia.

Não deixa, contudo, de ser curioso que embora consideram agora Bashar al-Assad um  exemplo de todos os males, não se atrevam a fazer na Síria o que tão lestamente fizeram na Líbia.

A NATO continua a ser fortes contra os fracos  e fraca contra os fortes. Depois de ter deposto Muammar Kadafi e de o ter ajudado a matar, recolheu a penates e esqueceu a Síria.

Por alguma razão Bashar al-Assad não está com meias medidas e pergunta: “Querem outro Afeganistão, ou dezenas de Afeganistões?”

“Qualquer problema na Síria vai afectar toda a região”, avisa  Assad. “A Síria é neste momento a linha de fractura do Médio Oriente. Qualquer intervenção ocidental causará um terramoto”, acrescenta o presidente sírio em Novembro de 2011 numa entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph.

Embora o povo sírio continue a ser morto pela gigantesca máquina de guerra da ditadura de Assad, a NATO tem outras preocupações. Enquanto se viram agora para a divisão dos despojos líbios, os países ocidentais não estão dispostos a levar porrada com uma intervenção similar na Síria.

E enquanto os sírios morrem como tordos, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pedem (que grande coragem!) o "fim imediato do banho de sangue" na Síria.

Recorde-se que Kadhafi acabou por, mesmo na morte, ser um aliado dos donos do mundo. Assim ninguém saberá o que ele poderia dizer sobre os seus anteriores amigos, alguns dos quais, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.

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