segunda-feira, maio 14, 2012

Portugal poderia viver sem o MPLA?
- Podia. Mas não era a mesma coisa!


O processo português de bajulação ao regime angolano do “querido líder” Eduardo dos Santos continua a alta velocidade. O MPLA está para Portugal como a troika está para o programa de governo de Passos Coelho.

Não há membro do governo português que se preze que não inclua Luanda no seu estratégico roteiro. Portugal podia (se é que podia) viver sem Angola, mas não era a mesma coisa.

O levantamento da TVI, televisão que certamente ainda não reparou que o presidente de Angola está no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito, é bem esclarecedor.

Ora vejamos. O secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, esteve duas vezes na capital do reino, em Novembro e Março. Dos onze ministros, só quatro não realizaram (ainda) visitas oficiais a Angola: Aguiar Branco (Defesa), Paula Teixeira da Cruz (Justiça), Mota Soares (Solidariedade e Segurança Social) e Paulo Macedo (Saúde).

Esta é, aliás, uma grave lacuna no curriculum deste quatro ministros. E, além disso, não faz sentido algum. Sobretudo porque a lagosta é de alta categoria e o povo que come, quando come, farelo ou mandioca até está longe dos mais luxuosos hotéis onde ficam os ilustres convidados.

Recorda a TVI que os capitais angolanos (forma imprecisa de dizer que são capitais do clã Eduardo dos Santos) estão na banca portuguesa (compra do BPN pelo BIC e posições no BCP e no BPI), mas também em empresas como a Galp e a ZON e na comunicação social (pelo menos – e que se saiba – no Sol).

Na quinta-feira, o ministro angolano Manuel Vicente, ex-representante do rei na Sonangol -  disse que o investimento directo em Portugal deixou de ser uma prioridade, cabendo aos empresários privados “encontrarem oportunidades”.

O aviso, mais um, fez soar todos os alarmes no governo e na presidência. Cavaco Silva,  também ele um ilustre sipaio ao serviço de sua majestade D. Eduardo dos Santos, e Passos Coelho ficaram em pânico.

E é para, entre outros salamaleques, tentar convencer o regime angolano que ser dono de Portugal é fácil, barato e até pode dar milhões que hoje chegou a Luanda o ministro Álvaro Santos Pereira.

Paulo Portas foi ai beija-mão em Julho e abriu a picada para o acordo sobre as novas regras dos vistos e, ao que parece, uma autoestrada para “doar” o BPN. Resultou bem.

Seguiu-se Miguel Macedo, em Novembro. Sem nada de espectacular, sempre assinou acordos de cooperação e de facilitação da circulação de cidadãos entre os dois países.

Chegou, entretanto, a vez – também em Novembro – do sumo pontífice lisboeta (africanista de Massamá), Pedro Passos Coelho. Acompanhado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, foi recebido pelo soba maior a quem garantiu todas as facilidades nas privatizações da TAP, ANA, CTT e  transportes.

Seguiu-se o super-ministro Miguel Relvas, em Janeiro, que ofereceu aos seus colegas do regime angolano acordos entre a Agência Lusa e o grupo Medianova e entre a RTP e a TPA. Determinou, aliás, a feitura de um programa publicitário (mascarado de informação) na RTP que ajudou a lavar a imagem do regime.

Para dar continuidade à obra de submissão e bajulação ao regime, em Março foi a vez de Assunção Cristas rumar em direcção à capital do reino. Mais uma vez deixou a garantia de que a empresa Águas de Portugal só não será do clã Eduardo dos Santos se ele não quiser. Rogou, contudo, para que queiram…

Ainda em Março, lá foi Vítor Gaspar, acompanhado pela  secretária de Estado do Tesouro e das Finanças e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Resultado? Para além das lagostas e seus sucedâneos ficou a certeza de que Galp rima com MPLA.

Para mais uns tantos acordos, com a mão estendida, foi também em Março que Nuno Crato quis convencer Angola a ratificar o Acordo Ortográfico. Não convenceu. Aliás, ortografia do regime angolano não é em português mas, isso sim, em dólares. Em Abril Francisco José Viegas teve a mesma resposta.

Hoje foi a vez (ele também é filho de Deus) de Álvaro Santos Pereira ir até Luanda. Na mão direita leva assuntos relevantes, como energia, transportes e obras públicas. Espera Portugal que na mão esquerda traga muitos dólares ou, pelo menos, a garantia de que o reino de Eduardo dos Santos não vai esquecer a sua colónia portuguesa (ou será protectorado?).

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