sábado, maio 12, 2012

Valerá a pena discutir a transparência opaca da "titularidade" dos grupos de imprensa???


Muitos cuspiram no prato que lhes deu tanta comida. Mas o que seria de esperar de tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem)?

António José Seguro anunciou a intenção do PS de apresentar um projecto-lei na Assembleia da República que garanta a transparência da titularidade dos grupos de imprensa, como já acontece com as leis da rádio e televisão.

Das intenções à realidade vai uma grande, uma enorme distância. E para além da questão da titularidade ser uma mera forma de tapar o sol com uma peneira, é certo que tudo vai ficar em águas (putrefactas) de bacalhau.

A ideia do PS, de acordo com Seguro, é “atribuir à Entidade Reguladora da Comunicação Social [ERC] competências para exigir e tornar pública informação sobre quem detém participações relevantes nas empresas de comunicação social” e ainda “criar mecanismos dissuasores do não cumprimento destas regras”.

O objectivo, explicou ainda o líder socialista, “não é escolher, filtrar ou impedir quem é o proprietário de um determinado órgão de comunicação social”. Pois. Por isso existem os donos e, é claro, os donos dos donos… mesmo quando legalmente não são donos.

O PS considera que, “até há pouco mais de uma década, eram conhecidos os donos ou os gestores dos maiores grupos de media, hoje, com a entrada em bolsa e com a abertura ao capital estrangeiro em alguns destes grupos, já não é bem assim”. Não é nada assim. Mas, apesar disso, é irrelevante saber quem é, no papel, o dono.

Estou, sinceramente, a gostar de ver este novela de cordel. Uma regra fundamental do Jornalismo diz, ou dizia, que se o jornalistas não procura saber o que se passa é um imbecil, e que se sabe o que se passa e se cala é um criminoso.

Os jornalistas, ou similares, portugueses procuram saber o que se passa. E a prová-lo está o facto de que muitos que eram socialistas desde nascença já viraram o bico ao prego.

Logo que pairou no ar a possibilidade de o sumo pontífice socialista ir de vela, começou a corrida desses jornalistas, ou similares, para a direita, dizendo e jurando a patas juntas que nunca foram socialistas, nem sequer simpatizantes de José Sócrates. Vale a pena continuarmos atentos.

Creio que a imprensa livre é de facto um pilar da democracia. O problema está quando, como parece ser também um facto em Portugal, a democracia não existe, ou existe de forma coxa e apenas formal.

Muito coxa, embora os donos dos jornalistas e os donos dos donos digam o contrário. Recordem, por exemplo, as mais impolutas figuras do anterior Governo lusitano, nesta como em todas as outras matérias (José Sócrates e Augusto Santos Silva), e registem o que dizem os actuais governantes, Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas.

José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo ao sector da comunicação social que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, fazer com que os seus mercenários, chefes de posto ou sipaios, titulares, ou não, de Carteira Profissional de Jornalista, fizessem da imprensa o tapete do poder.

Saiu Sócrates e entrou Passos Coelho. Resultado? Só mudaram as moscas. Algumas.

E foram esses mercenários que logo afiaram as navalhas para apunhalar, pelas costas, o “líder carismático” do PS. Ele caiu e logo apareceram os vermos a pontapear a imagem de José Sócrates, negando a patas juntas e pela alma da santa mãe que sempre foram contra ele.

José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar jornalistas em criados de luxo do poder vigente. Sócrates foi à vida e a carneirada jurou que se fez alguma coisa de errado foi por ter sido obrigada.

Em Portugal José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, garantir que esses criados regressarão mais tarde ou mais cedo para lugares de direcção, de administração etc.. Jurou e cumpriu. Mas, até mesmo esses, logo apareceram a dizer que estavam enganados e que Pedro Passos Coelho é que é bom.

José Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre à promiscuidade do jornalismo com a política (sobram os exemplos de jornalistas-assessores e de assessores-jornalistas). Mudaram-se os donos, mudaram-se as vontades. Tarefa, aliás, fácil para quem já nasceu sem coluna vertebral.

José Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre ao facto de que quem aceita ser enxovalhado pode a curto prazo – basta olhar para muitas das Redacções - ser director ou administrador. Cumpriu. Mas até esses logo foram preencher – ou apenas reactivar – a ficha do PSD.

Em Portugal, José Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre ao facto de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar partidos, empresas ou políticos. E essa garantia transitou incólume para Passos Coelho.

Pois é. Muitos cuspiram no prato que lhes deu tanta comida. Mas o que seria de esperar de tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem)?

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