quarta-feira, junho 20, 2012

Deputado amigo de espião e não só


O tribunal adiou hoje para o dia 26 a sentença do deputado socialista Ricardo Rodrigues acusado de atentado à liberdade de imprensa depois de se ter roubado (apropriado, tomado posse) dos gravadores de dois jornalistas da revista “Sábado” durante uma entrevista.

Cá para mim, num assumido (os direitos de autor são do ministro Miguel Relvas) “jornalismo interpretativo”, ao adiamento não é alheio o facto de, no caso das secretas, surgir agora uma mensagem enviada pelo ex-espião “made in Portugal” Silva Carvalho ao mesmo Ricardo Rodrigues, agradecendo o apoio prestado pelo deputado.

A mensagem é de Outubro do ano passado, altura em que a actuação de Silva Carvalho ao serviço das secretas estava a ser investigada e Ricardo Rodrigues era membro da comissão responsável pelo inquérito de investigação.

De acordo com o “Correio da Manhã”, que publica a mensagem onde Silva Carvalho agradece o apoio ao amigo socialista na situação com o jornalista Nuno Simas (hoje membro da Direcção da Lusa) e pede desculpa por não ter ligado mais cedo.

Pelo meio, refere-se a uma notícia que diz não ser brilhante, mas bem melhor do que a anterior e termina, ou não fosse um espião bem educado, com um abraço…

O caso dos gravadores afanados remonta a Abril de 2010, quando, durante uma entrevista, feita naquela coisa a que chamam Parlamento, Ricardo Rodrigues se levantou e abandonou a sala onde se encontrava, levando consigo os gravadores dos jornalistas Fernando Esteves e Maria Henriques Espada, depois de estes o terem interrogado sobre o seu alegado envolvimento num escândalo de pedofilia nos Açores.

Nas alegações finais do julgamento, o Ministério Público entendeu que o deputado socialista cometeu o crime de que vinha acusado na forma tentada, pedindo uma pena de multa.

Cá para mim, no âmbito do mesmo “jornalismo interpretativo”, Ricardo Rodrigues dava um excelente presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social, ERC.

Ao ser ouvido em tribunal, Ricardo Rodrigues alegou que se apoderou dos gravadores, porque era “o único meio de prova eficaz” da tentativa dos jornalistas para ”denegrir a sua imagem pública”. Impoluta imagem, acrescento eu.

O deputado socialista, que é advogado de formação e político de profissão, disse que se apoderou dos gravadores para ter uma “prova” sólida para apresentar ao juiz que viesse a decidir a providência cautelar, que intentou dias depois, sobre a publicação da entrevista, que, como disse, temia que viesse a ser “deturpada”.

O arguido - que na altura pertencia à Comissão Eventual para o Combate à Corrupção - relatou que as insinuações começaram com perguntas sobre o facto de, há 13 anos, ter sido advogado de uma mulher acusada de crimes de burla e falsificação, prosseguindo com uma interpretação abusiva que um dos jornalistas fez sobre um comentário seu sobre o engenheiro João Cravinho (PS).

Admitiu, contudo, que o que mais o transtornou foi terem abordado o caso de pedofilia em São Miguel, Açores - o chamado “caso Farfalha”, enfatizando que nunca teve nada a ver com o caso.

Em tribunal, a jornalista Maria Henriques Espada, na qualidade de assistente, alegou que todas as perguntas tinham relevância e interesse político, mesmo que juridicamente estivessem ultrapassadas.

Disse ainda que se cruzaram com Ricardo Rodrigues minutos depois no interior da AR e que o deputado respondeu que os gravadores iam ser entregues ao “fiel depositário”. A entrevista foi ainda gravada em vídeo/áudio, o que permitiu a sua publicação e divulgação volvido pouco tempo.

Ainda bem, contudo, que o assunto não preocupa a ERC. Mas creio que o deputado deveria pedir a opinião dos doutos membros da entidade. Ser-lhe-ia com certeza dada toda a razão.

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