quarta-feira, junho 13, 2012

Racismo selectivo e hipócrita


Fico virado do avesso quando, e aqui em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.

Dir-me-ão que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.

De qualquer modo chateia ver, por exemplo, uma Comunicação Social supostamente nada racista e intelectualmente válida a confundir a estrada da Beira com a beira da estrada.

Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.

Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.

Por alguma razão Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra.

Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista.

Mas, em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto, de coração e de alma, sou: Angolano.

Quando digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada têm de opção pessoal...), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso constitua uma maior ou menor valia. Será difícil entender isso?

E, já agora, continuo sem perceber (será também racismo? Será ignorância?) a razão que leva a Comunicação Social portuguesa a dar mais importância ao que se passa numa qualquer comunidade que nunca ouviu falar de Portugal e da qual os portugueses nada sabem, do que aos países africanos, ditos irmãos, que estão mesmo aqui ao dobrar da esquina.

2 comentários:

Carlos Cansado disse...

Admiro a sua sinceridade e valôr humano neste estimado blog revolucionário. Estamos na mesma trincheira para libertar Angola do dono eterno.

Joaquim Pereira disse...

Meu Caro amigo

Esse problema é um problema de toda a gente.Vivo na Guiné-Bissau há 13 anos. Todos os dias tenho que pagar pelo facto de ter pele branca. A toda a hora me chamam branco.O meu nome não é branco. porque terei que ser referido pela cor da minha pele.No mercado o preço que me é pedido é mais alto porque sou branco. Outras vezes sou beneficiado porque sou branco. Porquê? De fato todos precisamos de estar atentos a este problema. No fundo somos todos um pouco racistas. Há que mudar esta mentalidade.