quinta-feira, agosto 09, 2012

Não atazanem a paciência ao MPLA!




Recordam-se que os jornalistas do diário Le Figaro denunciaram no dia 17 de Julho de 2009 a publicação em 2008 de sondagens "encomendadas", segundo eles, pela presidência francesa?

Acrescente-se que, na altura, a deputada socialista Delphine Batho, porta-voz da ex-candidata às presidenciais Ségolène Royal, denunciou "um sistema de instrumentalização da opinião e de conivência entre o poder, um instituto de sondagem e alguns órgãos de comunicação".

Na comunicação social portuguesa começam a circular informações sobre sondagens relativas às eleições do próximo dia 31 em Angola e que, obviamente, dão a vitória folgada ao partido que está no poder desde 1975, o MPLA.

Em Maio deste ano a empresa de sondagens Gallup divulgou que o presidente de Angola, há 33  anos no poder sem nunca ter sido eleito, José Eduardo dos Santos,  era o dirigente menos popular na África subsaariana, sendo que apenas 16% dos angolanos aprovam o seu desempenho.

Obviamente que não acredito. Como é que só 16% dos angolanos aprovam José Eduardo dos Santos quando todos sabem, sobretudo pelos ensinamentos dados pela barriga vazia, que ele é não só o sumo pontífice do país como o mais alto representante de Deus na terra?

A sondagem, levada a cabo o ano passado em 34 países da África subsaariana, indica ainda que 78% desaprovam da sua actuação como presidente do MPLA e de Angola (é tudo a mesma coisa).

A Gallup não deveria, na minha opinião, divulgar estes dados. É que se, por qualquer acaso, o dono de Angola levar a sério a sondagem, lá vai fazer com que a sua vitória seja superior a 80%, valor mínimo aceitável para quem herdou dos portugueses um deserto e em 37 anos o transformou num país como é aquele que hoje é sono de Portugal.

Diz a Gallup que em relação ao governo do MPLA, também só 16% aprovam o seu trabalho. Nem poderia ser de outra forma. José Eduardo dos Santos é sinónimo de tudo; partido, governo, presidência, petróleo, economia, Portugal etc. Assim sendo, o país é só ele e o resto é paisagem.

É claro que se os angolanos fossem livres, certamente que Eduardo dos Santos não teria muito mais que os tais 16% de votos. Mas não são. E entre comer peixe podre, fuba podre e ter direito a 50 angolares  e nada ter para alimentar a barriga, os angolanos escolhem o MPLA, mesmo que apanhem porrada se refilarem.

Em Angola, mais de 68% da população vive em pobreza extrema e a taxa estimada de analfabetismo é de 58%. A dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos. O silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres. O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Por muito que nos areópagos da CPLP (bem comidos e bebidos) se diga o contrário, a verdade é que pela  “Constituição” do MPLA (dizer que é de Angola é o mesmo que dizer que é o povo quem manda na Sonangol), o Presidente da República é o “cabeça de lista” (ou seja o deputado colocado no primeiro lugar da lista), do partido mais votado, eleito pelo círculo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional.

Não é uma eleição indirecta, feita pelo parlamento (como acontece por exemplo na República da África do Sul), mas uma vigarice típica dos regimes a quem não basta ser totalitário.

Assim, o futuro presidente (José Eduardo dos Santos) é o primeiro deputado da lista do partido mais votado, mesmo que esse partido tenha apenas 25% dos votos expressos. Por outras palavras, para ter a certeza de que não vai perder as eleições presidenciais, José Eduardo dos Santos pura e simplesmente acabou com elas.

Sobre os contrastes que existem em Angola, ou seja, a de país rico em recursos naturais como petróleo e diamante e os seus altos níveis de pobreza, questão colocada por uma jornalista alemã na altura da visita de Ângela Merkel a Luanda, o dono de Angola disse “só pode chegar a esta conclusão quem não conheceu Angola antes da independência e o percurso até agora”.

Nem mais. Só faltou dizer aos portugueses para continuarem como até aqui, quietos, calados e de cócoras para não obrigarem José Eduardo dos Santos a fazer com mais veemência o que está a ser feito por Passos Coelho: pô-los a peixe podre, fuba podre, cinquenta angolares e, é claro, também sujeitos a porrada se refilarem…

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