quinta-feira, agosto 09, 2012

Pódio dos portugueses, olímpicos ou não!




O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Moura, defendeu hoje uma “mudança de paradigma” no desporto português, para evitar resultados “residuais” nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016.

Porque carga de chuva se deve mudar o paradigma do desporto português se, de facto, o próprio país não tem qualquer paradigma?

Aliás, Portugal nem sequer precisa de desportistas olímpicos nem de ganhar medalhas. Que melhor recorde poderá querer do que ter um milhão e duzentos mil desempregados, 20% da população a aprender a viver sem comer e outro tanto prestes a entrar na mesma onda.

O relevante é que, no dia 11 de Junho de 2009, o Real Madrid ofereceu ao Manchester United 93 milhões de euros pela transferência de Cristiano Ronaldo. Isso vale mais do que qualquer medalha, do que qualquer utopia de alma são em corpo são.

“Acompanho aquilo que foi dito sobre esta matéria. Pagar quase 100 milhões de euros pela transferência de um jogador, nunca me passou pela cabeça”, afirmou na altura Cavaco Silva em Nápoles, Itália, à margem do encontro dos Chefes de Estado do Grupo de Arraiolos, acrescentando que “gostaria que Portugal fosse mais conhecido pela inovação, pela modernização e pela sua competitividade”. Tretas cavaquistas, obviamente.

O presidente do COP disse também que a responsabilidade pela definição da política desportiva do país “é do Governo”, que vai ter que decidir “o que quer fazer”. Provavelmente o ministro Miguel Relvas vai propor o fim deste tipo de desporto, devendo Vítor Gaspar sugerir a privatização total dos atletas, eventualmente a favor dos pobres e desgraçados portugueses cujo paradigma é António Mexia.

Para Vicente Moura, “é indispensável”, entre outras coisas, “aumentar o número de praticantes”. Não. Não creio que seja essa solução. O que Portugal precisa é de melhorar as remunerações de outros atletas olímpicos que, esses sim, são recordistas nacionais e mundiais.

Exemplos? Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.

Como pode um atleta olímpico como António Mexia trazer medalhas se, cito a  Comissão de Mercado de Valores Mobiliários,  só auferiu o ano passado  1,04 milhões de euros, sendo cerca de 712 mil euros de remuneração fixa, enquanto que a variável atingiu os 331,4 mil euros?

É claro que tudo vai ficar na mesma e, tal como o desporto olímpico, também o país vai ficar como algo residual no contexto das nações.

Os donos do país sabem que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.

Os donos do país sabem que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.

Os donos do país sabem que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos”.

Os donos do país sabem que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.

Entretanto, alguns portugueses (não tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra Junqueiro – Portugal tem “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.

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