quinta-feira, agosto 16, 2012

Portugal aguarda instruções do MPLA para divulgar o seu total apoio ao “querido líder”


O voto no MPLA é a escolha certa para “não comprometer o futuro”. Quem disse? Vá, vamos lá puxar um pouquinho pela cachimónia e adivinhar quem terá dito esta original frase.

Cavaco Silva? Passos Coelho? Miguel Relvas? Poderia ter sido qualquer um deles ou todos em conjunto. Se ainda o não fizeram oficialmente só devem estar à espera que um qualquer porta-microfones da praça apareça a questioná-los.

Creio, aliás, que Portugal só espera que cheguem instruções de Luanda para, publicamente, manifestar o seu apoio ao democrata, honorável, impoluto, soberbo e divino líder do regime angolano.

Mas não, não foi ainda nenhum deles que fez este panegírico ao regime. Quem o disse hoje, em Saurimo, foi o impoluto líder do MPLA, partido que governa Angola deste 1975, e Presidente da República, não eleito e há 33 anos no poder, José Eduardo dos Santos.

Citado pela sua agência de propaganda, a Angop, José Eduardo dos Santos disse já ter visto e ouvido as propostas das restantes oito forças concorrentes ao escrutínio e concluiu que o voto, no dia 31 de Agosto, no MPLA, é “a escolha certa para dirigir os destinos da nação, rumo ao desenvolvimento”.

Quanto às propostas dos outros partidos, depois de dizer que todos prometem (o que, aliás, não é difícil) governar melhor que o MPLA e resolver todos os problemas, destacou que se trata de uma "cantiga boa".

"Mas quem é esperto não se deixa levar. Quem tem experiência é o MPLA. Quem tem mais quadros capazes é o MPLA, este é o partido da verdade, ama o povo angolano e luta pelo seu bem-estar", sublinhou o “querido líder”, o “escolhido de Deus”, Eduardo dos Santos.

O que Eduardo dos Santos não diz é que, no país que actualmente o maior produtor de petróleo na África subsaariana,  todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

Nem ele nem o MPLA dizem que  45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Tal como não dizem que no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Nem ele nem o MPLA dizem que  em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Nem ele nem o MPLA dizem que  em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, ou que o governo disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos,  dinheiro que não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.

Nem ele nem o MPLA dizem que  em Angola 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros, que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Nem ele nem o MPLA dizem que  em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

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